domingo, 20 de janeiro de 2013

Laço Mortal 

Enquanto o homem seguia a passos largos pela calçada, reparei que um papel havia caído de seu bolso, infelizmente não pude alcançá-lo, já havia desaparecido de minha vista, sobrou-me apenas o papel, que peguei de supetão, entrei, fiz um café e me sentei com o papel na mão . As letras impressas me causaram uma certa admiração, não só pela bela caligrafia, como pela escrita em uma língua estranha, talvez latim . Procurei o padre Corcelli, para que pudesse traduzir, se possível . A minha suspeita se confirmou : Latim .
Padre Corcelli mal conseguia traduzir devido a complexidade do texto, mas, afinal o que eram aqueles escritos ? - Não posso continuar, são coisas horríveis ! Blasfêmia ! Onde conseguiu isso, minha filha ?
- Caiu do bolso de um homem, padre, preciso entregá-lo, não sei como encontrá-lo ! Me diga, padre, por favor, o que é ? - Filha, aqui diz que é preciso fazer um sacrifício para conseguir invocar uma terrível força demoníaca ! Não entregue a ninguém, eu a peço que deixe isto aqui, seguro, comigo ! Eu o guardarei em um lugar sagrado, para que ninguém mais possa ter acesso . Entregarei nas mãos de um amigo, ele saberá o que fazer com este, digamos, contrato maldito ! Não conte a mais ninguém sobre este assunto . E num gesto rápido fez o sinal da cruz . O sinal pode ou não ser acompanhado por uma fórmula verbal . O sinal da cruz é um dos símbolos mais básicos da religião cristã, relembrando a importância do sacrifício de Cristo na cruz .
Segui apressadamente para minha rua, olhando ao redor para saber por onde começar minha busca por aquele homem que havia deixado aquele papel cair . Quando de repente, num encontrão, esbarrei em um rapaz carregando algumas malas . - Me desculpe ! - Eu que peço desculpas, apareci do nada na suas frente !- Disse ele, sorrindo animadamente . - Acabei de chegar e já recebo boas vindas ! - Disse, abaixando as malas . - Me desculpe mesmo, estava distraída . - Eu disse, de cabeça baixa . Não se preocupe, basta tomarmos um café que estará tudo esquecido ! - Disse ele . - Então, tudo bem . Respondi .
Seu nome é Antony e está escrevendo sobre a cidade, um jornalista, digamos assim . A conversa discorreu rápida e cordialmente, e então, voltei ao meu trajeto . Passei algumas quadras da minha casa para encontrar Hellen, que estava me esperando na livraria . -Hellen, eu preciso te contar algumas coisas ! - Calma, o que houve ?! - Vamos lá pra casa, quero saber qual o motivo desse alarde todo ! - Disse ela .
Contei para ela tudo o que havia  acontecido, e ela me ouvia atentamente, e maravilhada com a história, disse que eu deveria ir até a loja da Senhora Nadir ( vendia velas, ervas, imagens de entidades e santos, era feiteceira ) . -Não ! De maneira nenhuma ! Não podemos fazer isso, você enlouqueceu ?! - Eu disse . - Não perigo, ela pode até te ajudar, sabia ? - Disse ela . - Não achei uma boa idéia ! Eu disse .
O assunto acabou por aí . E fui para casa . Muitos pensamentos rondaram minha cabeça, de modo que não consegui dormir aquela noite . Passei uma madrugada entre livros e televisão . Já de manhã, meus olhos ardiam e precisava voltar para o meu trabalho, pesadamente, levantei para me arrumar . O dia passou rápido e já estava voltando para casa quando quando alguém gritou meu nome . - Antony, como vai ? - Muito bem, obrigado ! Estava a sua procura, podemos conversar ? Disse ele em tom baixo . -Sim, mas estou indo para casa agora . Pode me acompanhar ? - Perguntei . -Sim, claro - Ele disse .


quarta-feira, 7 de março de 2012

Desaparecida CAPITULO 3

Um homem de sobretudo marrom entrou na cafeteria olhando de uma lado a outro . "Pois não, senhor. Posso ajudá-lo ?" - Eu disse . "Sim, uma xícara de café sem açúcar, por favor ." Disse o homem .  Sua inquietação me fez perguntar por impulso : "O senhor está bem ?"  -"Sim, claro". Mas, logo que virei as costas para lavar as xícaras, ele me chamou, e tirou do bolso lentamente, uma foto. Uma bela jovem de olhos castanhos e pele morena, sorridente . "Ela está desaparecida, desde ontem, você a viu" ? - "Não, infelizmente não, mas, se eu a vir, o que faço ? "Ligue para mim, aqui está, pode ser a qualquer hora !"  
"Pode deixar". Então, ele pagou e saiu. Fiquei um pouco incomodada com a situação, continuei meu trabalho e estava me preparando para fechar . 
Cheguei em casa, tomei um banho e fui me vestir . Ao acender a luz da cozinha, me deparei com algo nojento no chão, um rato morto, com suas tripas para fora, dei um grito de nojo e susto, sem saber o que ia fazer para tirá-lo dalí, pois não queria ter que colocar a mão naquela coisa ! Não teve jeito . Pus as luvas e peguei tudo aquilo com horror e limpei o assoalho o máximo possível, já era o jantar, já era meu sossego ! Droga ! Como aquilo foi aparecer alí ? AH, minha janela da cozinha ficou aberta ! DROGA, malditos gatos ! E fui pisando forte   para meu quarto . Respirei fundo e peguei meu livro que, antes, estava perdido e fora encontrado  lá fora . O abri com carinho e lá estava um bilhete, escrito com uma letra graciosa e feminina : "Querido Theo, te espero na segunda árvore, aquela da pedra, no lago. Beijos, Amelie . Então, imaginei, dois jovens casais usando meu livrinho como porta voz de um recadinho amoroso ... Então, sorri, repousando as costas no travesseiro devagar .
Uma manhã ensolarada, um dia lindo ! E levantei-me animadamente para regar as flores da varanda. Mais, uma vez, aquela sensação estranha de estarem me observando. Meus vizinhos não ficam tão longe, podem estar me olhando, normal . Mas, observar ? Odeio esta sensação ! E enfiei a pazinha na terra, tentando arrancar as raízes daninhas do meu girassol. E uma sombra cobriu a visão do que eu estava fazendo. Sapatos pretos de couro, e calça azul marinho, terno amarrotado. Levantei-me : -Bom dia senhor . eu disse. - Bom dia, como vai ? ele disse. - A senhora chama-se Júlia ? -ele perguntou. Prontamente o respondi que não. -Oh, desculpe-me, estou procurando uma senhora chamada Júlia, cheguei de viagem para mandar um recado para ela . - Lamento, mas não sei informar onde ela mora, não conheço ninguém com esse nome . Quem sabe alí naquela casa possam lhe informar ? - Espantado, o homem apontou a casa da Sra  Dereon e disse: - Alí ??? Não, não!!! Vou confirmar esse endereço e volto amanhã, obrigado e desculpe o incomodo !  E saiu . Não entendi o olhar espantado daquele homem, parecia alcoolizado . Pobre homem ...

OS PASSOS CAPITULO 2

Essa madrugada não foi nada tranquila, eram tantos passos martelando em meus ouvidos, que tentei abafar aqueles sons cobrindo a cabeça ... Que droga, não aguento mais essa loucura, quem será que mora aqui ao lado ? Preciso ter uma conversa com essas pessoas ! Amanheci descoberta e meus braços doloridos, mal queria me levantar da cama, me senti um pouco fraca, liguei para o trabalho para avisar o motivo de minha ausência . Preparei uma xícara de chá e sentei-me na poltrona, ao recostar, senti alguém me observando, olhei para a janela e percebi um vulto . E, tentando ser rápida, corri para a porta, mas, não avistei ninguém . Dei de ombros, poderia ser a árvore, que o vento, insistente, fustigara . Resolvi ir até o lado de fora, e qual foi minha maior surpresa : No chão estava o meu adorado livro, que havia sido perdido no ônibus ! Mas, como poderia ser ? Quem sabia que este livro é meu ? Como ? Como ? Me perdi em dúvidas, imaginando rostos, mas, ninguém poderia saber que aquele livro era meu . Ninguém sabia que eu andava com livro na bolsa ! Logo me voltou à mente aquele vulto na janela ... Quem era, o que era ? Não foi a árvore ! Alguém jogou aquele livro alí ! MAS, QUEM ?
Eram 16:00hs quando tomei  uma decisão : Ir até a casa ao lado . Eu precisava saber quem era ou eram, aquela, aquelas pessoas ... Então, fui até lá e toquei a campainha . Uma senhora muito simpática me atendeu e convidou-me a entrar . "Sente-se menina, fique a vontade, vamos tomar um chá".  Contei a ela que somos vizinhas de parede, e ela apenas sorriu serena . E, logo percebi que havia uma mocinha no alto da escada, me observando, acenei para ela e ela saiu muito rápido . Então, perguntei a senhora quem era, e ela respondeu que era sua adorável neta, Julie. E, no mesmo instante, me disse também seu nome, Dereon . Senhora Dereon .  Ela mora com seus netos e seu único filho, Marlon . Mas, conheci apenas Senhora Dereon e, de longe, sua arisca neta, Julie . Sai de lá com uma ótima impressão, e também louca por aqueles adoráveis biscoitinhos de aveia ! . Foi uma tarde agradável .
Uma grande tempestade me fez apressar os passos em direção a minha porta, quando trombei com um rapaz de capuz preto, olhar estranho e rosto pálido . "Que susto, desculpe"- Eu disse. Ele apenas acenou sutilmente a cabeça e saiu a passos largos em direção a casa da Sra. Dereon . Imaginei ser o neto dela. Corri para dentro e fui tomar uma ducha quente, para depois, me jogar na cama .
Mais uma rotina de trabalho, e Míriam estava ansiosa para sair mais cedo, Míriam e suas festas ! "Pode ir, não se preocupe" . Rimos cúmplices . A cafeteria estava praticamente vazia, apenas senhor Valter e senhora Lourdes estavam alí, degustando suas panquecas e trocando farpas entre si . Aqui é um lugar tranquilo, em um bairro onde o lago é a maior diversão, piqueniques, casais apaixonados e ler um livro alí, são algumas coisas que a maioria aqui faz , existem muitas outras alternativas para se divertir aqui, mas, eu gosto do lago . Eu o vejo pela janela dos fundos, ao longe .

segunda-feira, 5 de março de 2012

Capítulo I

A porta estava entreaberta, alguma coisa passou por alí . Estava muito escuro pra ver, preferi voltar pra beira do lago . Chegando lá, deixei me levar por aquelas ondulações brilhantes, aquela água escura, contrastando com  o dia cinzento . Muita neblina hoje . Já em casa, ouvi os mesmos ruídos vindo daquela casa, e isso estava se tornando rotina . Poderia ser alguém arrumando os móveis . Eu só queria descansar, meu dia foi estranho, todo aquele papo no trabalho me deixou assustada. Esqueci meu livro preferido no ônibus, que droga !!! Não sei como isso aconteceu, eu ter esquecido meu querido livro ... 
Já de manhã, meu sono foi interrompido abruptamente por alguém no portão, uma velha senhora um pouco inquieta, me cumprimenta, sorri ansiosa e me entrega um pequeno panfleto . Não li na hora, agradeci e voltei pra  dentro, querendo dormir mais uns minutos . Não dá tempo, preciso ir pra cafeteria correndo . Mais um dia cinza, mais café, mais panquecas, por favor ... 19:00hs  ônibus, e, a lembrança do livro que perdi ... Estranho minha amiga ter olhado pra mim daquele jeito, quando eu comentei a respeito dos ruídos daquela casa ao lado . São vizinhos, vizinhas, vizinha, vizinho ? ... Não sei, só sei que o barulho me incomoda, às vezes . Móveis que se arrastam, pancadas nas paredes ... Nem sempre é tão intenso, só às vezes . E tenho a sensação de que a casa ao lado "respira" . Na madrugada, qualquer som é perceptível, e, quando deito e me atento ao som do ambiente externo, tenho a sensação de ouvir os passos no assoalho, suaves, rápidos ao longe .